É angustiante receber cada vez mais convites para eventos (facebook) que são, afinal, vendas feitas por pessoas que precisam trocar tudo o que têm para conseguir pagar uma despesa no fim do mês.
Vive-se dia-a-dia. Os planos são ao mais curto prazo possível e já só importa sobreviver. Ter para o mínimo.
É angustiante receber cada vez mais notícias de amigos, familiares, conhecidos, amigos de amigos e conhecidos de conhecidos que ficaram ou estão em vias de ficar desempregados.
Faz-se o que se consegue para sobreviver. Troca-se, vende-se, dá-se, ajuda-se, pede-se ajuda.
É angustiante ver os pedidos desesperados de ajuda, ouvir os gritos mudos, abafados por um sorriso de quem ainda tem a dignidade de conseguir pedir ajuda com um sorriso que esconde as lágrimas que querem jorrar à força porque a luta entre a dignidade e a vergonha é obscenamente desequilibrada. Obscenamente desequilibrada.
É angustiante olhar para os filhos, os nossos e os dos outros, e não saber o que vão comer amanhã. Não saber como vão sorrir amanhã. Não saber como vão estudar amanhã. Não saber como lhes vamos conseguir sorrir e dar tranquilidade para que, ao serem crianças felizes hoje, sejam adultos equilibrados amanhã.
Se as crianças são o Futuro, que futuro estamos a proporcionar ao nosso Futuro?
Se as crianças são o Futuro, que futuro estamos a proporcionar ao nosso Futuro?
Mas neste país, neste momento, vive-se para este momento, o momento em que não sabemos o que vamos comer, o que vamos vestir, como vamos pagar. Como vamos Ser.
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